RESGATAR O CALIFADO?
Nos séculos X e XI, as nações muçulmanas passavam por mudanças políticas tomando formas menos
convencionais. Surgiam grupos de regiões berberes e novas dinastias que trouxeram outros modelos de governar. Dinastias como almôadas e almorávidas impunham suas lideranças muitas vezes de forma ofensiva. Estabeleceram códigos da lei islâmica distantes do modelo califal.
Alguns filósofos deram seus tons referente a esses sistemas políticos. Uns tentando resgatar o modelo antigo, outros construindo novos saberes para a época e para as posteriores. Entre eles, o filósofo Al-Mawardi (972-1058) sunita, que substanciou a estrutura do califado. Porém o período dos seus escritos, o regime do
califado era mais um poder nominal, era o momento dos sultões muito apoiados pelos exércitos militares. Ao estruturar o califado ideal, Mawardi pretendia revitalizar a dignidade califal. Por causa do poder já nas mãos dos sultões, Mawardi tentou salvaguardar o primado do califa. Uma de suas colocações era que o sultão recebia autoridade conferida pelo califa, devendo obediência a ele. Entretanto, o seu desejo de revitalizar não aconteceu.
Outros filósofos contribuíram para abordar sobre o poder dos califas, mas a maioria conclui que o califado pertenceu a uma época áurea do islã, e não tinha mais como ser resgatado. Tanto Taymiyya (1263-1328) como Ibn Khaldun (1332-1406), defenderam que o Estado Islâmico puro e perfeito foi o que ocorreu no período do califado dos "bem guiados", Abu Bakr, Umar, Uthman, em que a Lei de Deus se encarnou na sociedade islâmica. Tudo era começo e precisavam se reafirmar como religião. O sentimento de pureza é então melhor aceito e compreendido, conforme posições desses filósofos.
Alguns movimentos contemporâneos, como os grupos extremistas islâmicos, têm a pretensão de resgatar o islamismo na sua essência acreditando que haverá um governo sob ordens legítimas e o retorno a um Estado em que a ortodoxia, sunita, gozará de privilégios e sem interferência de lideranças de outras ramificações islâmicas. Essa releitura de líderes jihadistas têm causado sérios problemas para a comunidade muçulmana e para as relações com os países do ocidente. Se no período do islã clássico o formato califal não foi bem sucedido, agora menos ainda. Com a insistência de resgatar um sistema antigo, muçulmanos radicais
cometem as mais diversas atrocidades, afirmando estarem fazendo a vontade de Deus e desejando impor regras que não cabem mais na atualidade.