Um Pouco de Imigração Árabe
Família de imigrantes libaneses no Brasil em 1920.
(https://www.infoescola.com/historia/imigracao-libanesa-no-brasil/)
Segundo Jamil Safady, citado por seu irmão Jorge Safady (1956:9), o conceito de imigração é:
As imigrações são fenômenos normais na história da humanidade. O homem encontrava-se em todos os continentes na pré-história e, nos últimos dois milênios, acelerou a colonização de regiões antes inóspitas, graças aos progressos técnicos. A redescoberta das terras americanas alargou os horizontes das migrações humanas, formando povos e estabelecendo novos Estados. É o Novo Mundo que está em evidência, atraindo a juventude das outras partes do mundo.
Em entrevista com duas personalidades árabes do Rio de Janeiro em 2004, Padre Georges da Igreja Maronita e nosso querido Mansour Challita, escritor líbano-brasileiro, o correto é chamar de imigração sírio e libanesa e não imigração árabe. Isto se dá porque a palavra árabe para qualquer estudo atual teria conotação com muçulmano, terrorista e conflito. Seria uma discriminação quanto ao povo árabe. Outro motivo por eles mencionado é que cada país de língua árabe tem a sua própria história, a sírio e libanesa são semelhantes em alguns aspectos e foram estas duas nacionalidades que vieram para o Brasil nos séculos XIX e XX. A preocupação é mostrar que houve e há entre nós como maior investimento cultural, o que é de origem árabe, principalmente no desenvolvimento do islamismo. Sabendo que o povo que mais contribuiu com a divulgação da cultura e religião foram os sírios e em número maior os libaneses.
O Brasil recebeu muitos imigrantes, principalmente no século XIX. A maior predominância foi no meio rural. Os imigrantes chegaram como "escravos”, mas tornaram-se livres quando fizeram a agricultura crescer. O número da imigração sírio e libanesa depois de 1950 diminuiu.
Os sírios e libaneses foram os primeiros árabes a virem para o Brasil como imigrantes. Ao aportarem no Brasil eles se fixaram em São Paulo na área predominantemente urbana. Conhecidos como mascates, eles se integraram no comércio e atingiram as classes altas. O Estado de Minas Gerais foi o segundo estado a receber o maior número de árabes e em terceiro lugar o Rio de Janeiro. No início, a imigração seria provisória, mas tornou-se definitiva quando os árabes se sentiram filhos da terra.
Depois que os árabes chegaram, fixaram residência e se fortaleceram como povo, é que exerceram suas influências culturais e religiosas. Estas influências atingiram vários setores culturais, que embelezaram e aumentaram o aspecto cultural brasileiro, até este momento a influência é simplesmente étnica e cultural, sem caráter religioso. É com os muçulmanos que aconteceu uma forte disseminação da religião islâmica, que até aos nossos dias, não exerceu mudanças nos aspectos culturais do Brasil.
As perseguições contra os cristãos sírios fizeram com que eles emigrassem para outras terras. Essas perseguições movidas pela opressão do Império Otomano, causaram insatisfações nos sírios que eram cristãos mais progressistas, mas muitos muçulmanos também estavam insatisfeitos com este regime autoritário.
Jorge Safady (1972:161-62), mencionou que a emigração do Líbano se deu pelas muitas perseguições:
O fator primordial dessa emigração era a pressão e o despotismo dos dominantes turcos. As divergências entre muçulmanos e cristãos, definidas desde os tempos dos cruzados, produziram convulsões internas no Líbano, que culminaram com os massacres de 1860. O libanês, naquela época, para descer a Beirute ou a Trípoli era sempre molestado pelos muçulmanos dessas duas cidades. O Líbano, depois daquelas convulsões internas, ficou menor em área conforme a constituição de 1861 e continuou assim, até depois da Primeira Guerra Mundial, desligado de Beirute, Trípoli, Saida e Sur. A região do Bika’a tendo Zahle como capital era dominada pelos muçulmanos shiitas, lugar de lutas entre cristãos e muçulmanos. Na Síria as lutas entre muçulmanos e cristãos não eram menores. Na cidade Homs as lutas eram em maior escala. Os cristãos não tinham nem o direito de andar nas calçadas.
Diante de todos os fatores responsáveis pela emigração, o Império Otomano foi o primordial das humilhações e frustrações dos sírios e libaneses. A presença deles inibia a cultura e o desenvolvimento intelectual dos mesmos que se sentiam um povo de segunda categoria. Estas humilhações resultaram em grandes levas de emigração árabe. Os sírios escolheram, primeiramente, o Egito, depois seguiram para outros continentes em busca de liberdade. Esta liberdade no início tinha o objetivo de poderem se expressar como povo e se agregarem mutuamente para firmar a cultura entre eles.
Estes fatores da emigração sírio-libanesa tiveram início com o Nahda, renascimento, ou seja, vislumbrar o novo com maior liberdade para uma terra distante. O movimento Nahda nas terras sírias e libanesas conduziu a uma mudança de território. Eles começaram a emigrar para os Estados Unidos, Canadá, Europa e Brasil.
Por terem seus passaportes carimbados como turcos (por pertencerem as terras com o regime turco otomano) os registros constam como nacionalidade turca, turco-árabe, turco-asiático, turco-sírio e turco-libanês. Depois de 1908 eles foram registrados como “outras nacionalidades”. As estatísticas mais precisas começaram a ser registradas a partir de 1908. Entre 1871 e 1914, entraram oficialmente no Brasil 79.509 sírio-libaneses. Porém, não se sabe a porcentagem dos que se radicaram no país. Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial e até o seu início, durante cinco anos, vieram para o Brasil 33.220 imigrantes sírio-libaneses.
Os sírios alegavam não ter contato com outras nacionalidades dentro do Brasil, e então se sentiam muito isolados. Esta colônia era ignorada pelos brasileiros. Um dos motivos era o não entendimento por parte dos brasileiros da língua árabe. Outras nacionalidades como o francês, alemão, inglês, português e espanhol possuíam um bom relacionamento com os brasileiros. Estes liam jornais estrangeiros, ainda que para criticar suas idéias. Entretanto, a hospitalidade brasileira contribuiu para uma imigração de fixação definitiva dos árabes.
Em 1934 a maioria árabe se estabeleceu na capital de São Paulo, ao norte do distrito da Sé e ao sul do de Santa Ifigênia, cujas ruas são 25 de Março, a Cantareira e a Avenida do Estado.
No Rio de Janeiro a colônia árabe se estruturou nas ruas da Alfândega, Buenos Aires, José Maurício e adjacências, ao lado da Praça da República.
A despeito das restrições à imigração no Brasil, os sírios e libaneses passaram a oscilar entre 1.000 e 1.500 por ano, depois de 1947. Alguns sendo operários e outros agricultores, um e outro entra para atividade comercial - acabando por ser a atividade predominante deste povo no Brasil.
Embora outros árabes viessem para o Brasil como os egípcios ou palestinos, a união destes povos, juntamente com os sírios e libaneses, acontecia através da língua ou dialetos derivados do árabe.
A quarta leva imigratória além de receber libaneses, começou a receber os palestinos. Esta vinda foi definida pela implantação do Estado de Israel, provocando a saída de mais um milhão e meio de palestinos para várias partes do mundo. No Brasil, a comunidade sírio e libanesa, ajudou os palestinos a se instalarem, facilitando a documentação, moradia e trabalho.MOTT, Maria Lucia. Brasil, 500 Anos de Povoamento – imigração árabe, um certo oriente no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
SAFADY, Jamil. Brasil-Líbano-Síria. São Paulo: Ed. Safady, 1949.
_________. O Café e O Mascate. São Paulo: Ed.Safady. [s.d.]
SAFADY, Jorge S. Imigração Árabe no Brasil (1880-1971). Tese de doutorado Apresentada ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1972.
_________. O Líbano no Brasil. São Paulo: Ed. Safady, 1956.
TRUZZI, Oswaldo. De Mascates a Doutores: Sírios e Libaneses em São Paulo. São Paulo: Editora Sumaré,1996.
_______. Patrícios, Sírios e Libaneses em São Paulo. São Paulo: Ed. Hucitec, 1997.